1. Melhorar sistemas de alerta e ter mais radares em rede
Supercomputador Tupã, instalado em prédio do Inpe em Cachoeira Paulista. (Foto: Divulgação) |
Apesar de o País contar agora com o Tupã, supercomputador que rodará modelos de previsão mais precisos - a resolução de 20 km passará a ser de 5 km -, é necessário investir em soluções complementares. Com o aquecimento global, a tendência é que chuvas intensas sejam mais frequentes. É urgente a criação e manutenção 24 horas de centros meteorológicos em cada Estado e a ampliação do número de radares ligados a uma central.
INPE obtém dados de satélites para avaliar desastre no Rio de Janeiro 19/01/2011
2. Integrar, equipar e mapear para agir rápido e ser eficaz
Paes apresenta o Centro de Operações Rio, que servirá de QG em casos de emergências |
3. Informar, educar e avisar as pessoas sobre o alerta
4. Acabar com áreas de risco requer controle do solo
Se as chuvas intensas tendem a ser mais frequentes nos próximos anos, o impacto delas deve ser ainda pior caso a ocupação de áreas de risco continue crescendo desordenadamente no País. Para retirar todas as pessoas e evitar novas ocupações, é preciso oferecer opção de moradia segura e controlar efetivamente o uso e ocupação do solo. Deve haver fiscalização e cumprimento das leis e contenção da especulação imobiliária.
5. Restituir e conservar várzeas dos rios, encostas e florestas
Para recuperar e ao mesmo tempo proteger cidades encravadas em regiões serranas uma solução é a criação de parques naturais, ao longo das várzeas de rios. Quando transformados em unidades de conservação ou em áreas de preservação permanente, os locais não podem mais ser ocupados. O desafio, nesse caso, é retirar quem já mora nessas áreas. Outra medida é evitar a canalização de cursos d'água e a impermeabilização do solo.
6. Saber construir para mitigar impacto da chuva
Além de ações de grande porte, que envolvem poder público, ações individuais, principalmente se multiplicadas, contribuem muito para diminuir os efeitos devastadores das chuvas.
Recuperar jardins, manter quintais permeáveis, instalar telhados verdes e tanques para reter água, que pode ser usada para regar plantas, aumentar permeabilidade de pisos e calçadas e não jogar lixo nas ruas são bons exemplos.
fonte: estadao.com.br, Atualizado: 26/1/2011 0:09
RELATO DE UM MORADOR
Blog do Dr. Rodrigo Luz, morador de Nova Friburgo
UM DIA TRÁGICO NA HISTÓRIA DE NOVA FRIBURGO
Na manhã desta quarta-feira (12/01/2011), acordei com um helicóptero sobrevoando os céus de minha cidade (coisa rara de se ver num lugar do interior).
Choveu forte a madrugada toda. Eu mal tinha dormido por causa do barulho dos trovões e, por vezes, levantei para ir ao banheiro e beber água. Verifiquei numa das ocasiões que o meu apartamento estava sem luz. Senti fome e lembrei de comer a gelatina na geladeira antes que o doce derretesse. Voltava para a cama mas não conseguia entrar em acordo com a coberta para ajustar-me à temperatura do ambiente.
Logo que levantei, ouvi o barulho do tal helicóptero. Olhei pela janela e fiquei perplexo ao reparar que uma parte dos morros que circundam o centro da cidade tinha desabado. Uma tragédia havia acontecido poucos metros de minha residência.
Dentro de alguns instantes, eu teria um compromisso marcado com o meu cliente, agendado para às 8:40. Tratava-se de uma perícia judicial na área de engenharia, referente a um caso de deslizamento de terra ocorrido em janeiro de 2007 aqui na cidade. Juntos, eu e ele iríamos acompanhar o trabalho do perito engenheiro no local do acidente.
Contrariando meus hábitos de higiene, saí para trabalhar sem banho tomado porque não tinha luz para esquentar a água. Comi um pão de forma com mel e fui.
Ao colocar os pés no lado de fora da rua foi chocante. A portaria do meu prédio e as calçadas encontravam-se cobertas de lama. Vários paralelepípedos e tampas dos bueiros tinham sido deslocados. Porém, o pior eu ainda haveria de testemunhar.
Segui pela Praça Getúlio Vargas que mais parecia devastada por uma guerra. Era lama e água empoçada por todos os lados. Na medida em que eu caminhava em direção ao rio Bengalas, os estragos ficavam cada vez piores. Circulavam poucos carros, mas a todo instante ouvia-se o barulho das sirenes de uma viatura do Corpo de Bombeiros, da Polícia ou da Defesa Civil. As lojas ficaram inundadas de água e em alguns estabelecimentos o nível subiu bem mais do que um metro.
Pela visão parcial do deslizamento de terra que havia observado da janela de casa e com tanta movimentação das equipes de salvamento, não podia nutrir expectativas muito positivas do que pudesse ter ocorrido durante a madrugada e nas primeiras horas da manhã. Não podia imaginar que o barulho que tanto despertava meu sono talvez não fossem apenas os trovões, mas sim terríveis desabamentos de grandes proporções, destruindo casas, prédios, igrejas, ruas e hospitais, atingindo tanto favelas como áreas nobres da cidade. Algo incomparável com as enchentes de 2007, 2005 e de anos anteriores.
Aquelas cenas de destruição que logo de manhã eu estava presenciando ensinavam para mim que, quando chegam as tragédias, elas não avisam o dia e a hora, de modo que apenas podemos prever a época em que eventos deste tipo podem vir a suceder. Contudo, nesta quarta-feira cinzenta, eu estava vivendo um pouco daquilo que podemos imaginar ser um cenário apocalíptico. Era como se eu estivesse no terremoto do Haiti, nos bombardeios da segunda guerra mundial ou fosse vizinho das torres gêmeas do WTC no dia 11 de setembro de 2001.
Às vezes parece que vivemos mesmo num mundo de Alice. Temos nossos sentimentos e consciências anestesiados por um contato artificial com as coisas, sem darmos conta da realidade em que nos encontramos. Não só as programações da TV e a internet distraem nossas mentes, como as comodidades proporcionadas pela tecnologia e a prestação contínua de serviços essenciais fazem-nos esquecer facilmente do ambiente instável onde edificamos as cidades.
Nesta quarta-feira 12, experimentei por longas horas o que é ficar sem luz, sem telefone, sem serviços de transporte e sem condições para trabalhar, o que é de menos em face de tantas tragédias. Vi minha cidade parar e, por um fato da natureza, precisei abandonar um compromisso sem a possibilidade de estabelecer a comunicação através do celular. Também não pude transmitir nenhuma notícia aos meus parentes no Rio de Janeiro, os quais já estavam preocupados desde o dia anterior quando os telejornais tinham informado o desabamento de um prédio no bairro Olaria.
Tristes dias têm sido estes que já começamos a presenciar nas primeiras décadas do século XXI, mostrando-nos um cenário desolador que, pelas previsões dos cientistas ambientalistas, aponta para um período repleto de tragédias climáticas, capazes de por em dúvida a continuidade da espécie humana no planeta. Ou seja, cuida-se de um novo tempo que não só vem confirmar o cumprimento de antigas profecias, mas também denunciar o principal responsável pelas infelizes catástrofes – o homem (nós).
Nestas horas há quem culpe Deus e até blasfeme contra o Nome do Santo. Eu, porém, só posso ser grato ao meu Criador pela sua bondade para comigo, sabendo que Ele entregou uma terra perfeita à humanidade e que s temos destruído com nossa ambição desmedida. Isto porque, ao violarmos as leis da natureza, atraímos um retorno contra nós mesmos, sem que a tempestade faça acepção de pessoas. Pois, quando uma tromba d'água desce, morre o rico assim como morre o pobre e a enxurrada pode levar tanto o poluidor quanto o ambientalista, o justo junto com o pecador, bastando que se esteja em condições de vulnerabilidade.
Após ter aguardado infrutiferamente o meu cliente no local marcado, decidi voltar para casa. Permanecer na rua, junto com uma multidão de curiosos só contribuiria para atrapalhar ainda mais o trabalho dos agentes da Defesa Civil. Aquele tratava-se de um dia mal e ninguém poderia prosseguir nas suas atividades normais. Nada que estivesse ao meu alcance poderia ser feito pelas vítimas e seus familiares, a não ser calar-me, respeitar o sofrimento de meu próximo e ser grato a Deus pela oportunidade de continuar vivo.
OBS 1: O fornecimento de energia só foi retornando a partir da noite de 12/01 (na minha rua a luz chegou na tarde 13/01). O comércio ficou praticamente fechado por todo o dia 12. No dia 13, algumas portas se abriram e ontem (14) já tinha mais estabelecimentos funcionando com longas filas para as pessoas entrarem em mercados, padarias e farmácias. Até hoje não se aceitava pagamento pelo cartão de crédito e não tinha como tirar dinheiro no caixa eletrônico dos bancos que ainda estão fechados. Os serviços de transporte, telefonia, abastecimento de água e internet pararam. Até o momento já foram contabilizados mais de 200 mortos, sendo grande a quantidade de gente desabrigada e desalojada. Só hoje (15) é que consegui acessar a internet. Felizmente eu e minha esposa Núbia estamos todos bem!
OBS 2: As pessoas em minha cidade estão precisando de várias coisas, dentre as quais água mineral, alimentos não perecíveis e de pronto consumo (massas e sopas desidratadas, biscoitos, cereais), leite em pó, cesta básica, colchonetes, cobertores, kits de higiene pessoal e fraldas descartáveis, etc. Minha igreja está buscando uma ação coordenada e os contatos podem ser feitos com o Pr. Robson Rodrigues pelo telefone (22) 9213-3016 e um fixo no Rio de Janeiro (21)3079-0626.
"O maior problema agora será mesmo administrar esta questão logística.
**Hoje o HEMORIO trouxe um ônibus móvel para a cidade. Doadores de sangue não faltaram e a maioria acabou sendo recusada (notícia que não saiu no JN). O Estado simplesmente não mandou material suficiente e os funcionários estavam trabalhando em péssimas condições. Aí, no começo da tarde, voltou a chover forte, a rua inundou e acabei sento o último a doar sangue (meu número de senha era o 55). Depois não sei no que deu.
Concordo que a região serrana não tem condições geográficas para crescer. Na Suíça, a cidade de Fribourg, que originou o nosso povoamento, tem uma população be menor do que a nossa e, pelo que sei, há uma limitação populacional em que o excedentte é orientado a migrar para outros vales.
Verdade é que os nossos políticos não estão nem aí para esta situação. Agora todos fingem se comover, mas na maior parte do ano falta política habitacional e o dinheiro da ajuda das tragédias acaba sendo muito mal aplicado.
Acho que as chuvas de 1987 em Petrópolis não superaram as tragédias deste começo de ano."
CPTEC - Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos
Link importante:
Situação Meteorológica do Sudeste. aqui
Fomos nos que fizemos a chuva.
Cientistas finalmente mostraram que o aquecimento global é responsável pelas enchentes que têm assolado o mundo. O que fazer para evitar novas tragédias. aqui
Revista Época 19/02/2011 - Ciência e Tecnologia
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