quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Está chegando 2012







Este ano veja somente o que há de melhor nas pessoas e diga isso a elas!

Encare a vida de frente, consertando as suas próprias falhas porque você é você!

Quem se dispõe a trabalhar o seu interior está sempre melhor preparado para enfrentar a vida!

E quem se propõe a ser feliz, custe o que custar, acaba se transformando numa pessoa querida e desejada! Você é querido? As pessoas desejam a sua companhia agradável e sorridente? Você tem uma energia boa que é capaz de aproximar ou afugentar os outros?

Este ano chega de se sentir incapaz! Chega de se sentir inferiorizado!

Chega de aumentar a dificuldade nos relacionamentos quer seja no trabalho, na escola, na igreja, no seu bairro e até na sua própria casa!

Não seria essa dificuldade, talvez, a principal causa dos grandes problemas que as pessoas enfrentaram neste ano que se passou?

Comece você a colocar ordem na sua casa! Sim, bem aí no seu coração!

Coloque ordem suas relações pessoais. Pare de separar as pessoas feito um agricultor que, ao escolher tomates, diz assim: esse serve, esse não serve!

Pare de apontar o dedo e de fazer criticas àqueles que convivem com você!

Pare de rotular as pessoas. Todo mundo tem seu valor.

Não perca mais o seu precioso tempo e a sua poderosa energia, apontando os erros dos outros. Concentre-se mais nos seus erros, nas suas limitações e falhas! Isso sim é possível consertar: as suas falhas. Mas as dos outros, raramente teremos esse poder!

Portanto, pessoa querida, neste novo ano cuide do que é seu! Só assim poderá, com o seu exemplo, ajudar aos outros. Jamais as críticas, as intolerâncias, as agressões foram capazes de mudar ou de ajudar alguém! Você sabe que não é assim que funciona!

O amor sim, consegue aproximar, valorizar, consolar e transformar!

Ame a todo mundo como Deus nos ama. Ajude, abençoe, encoraje e enxugue as lágrimas de todos que estão aqui nesse mundo de passagem, como você!

Veja somente o que há de melhor nas pessoas e diga isso a elas! Cuide delas. Mas principalmente de você!



Postado por Cintia Kaneshigue no seu blog

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Doutrina de choque nas favelas do Rio?


O mundo está em choque. Os países da Europa pedindo dinheiro. Os países Islâmicos derrubando ditadores. O Japão abalado com desastres naturais e atômicos. Estados Unidos em crise. E o Brasil crescendo e sendo reconhecido com uma grande potência. No Rio de Janeiro as UPP´s prometem trazer paz . Tem alguma coisa muito errada que eu não sei o quê é, mas sinto o perigo no ar.

Quando assisti o vídeo da Naomi Klein sobre a "Doutrina de Choque", e publiquei aqui e aqui, aprendi que os governos adoram uma crise para empurrar o que eles querem na goela do povo. Aprendi que quando a crise não vem naturalmente, o governo até inventa uma motivo para fazer uma crise. Aprendi que só os ricos ganham muito com as crises e o povo fica cada vez mais pobre.

Hoje levei mais um choque na minha cabeça lendo esta reportagem. Será que a especulação imobiliária está por traz de todo esse movimento de pacificação das favelas? O tráfico, a corrupção da polícia e dos políticos, a violência, a Copa e as Olimpíadas, são apenas fachada para justificar o choque e prover o enriquecimento de alguns? Como somos manipulados e indefesos. Quem poderá nos defender? O Chapolin Colorado?


Especulação imobiliária
A edição deste domingo – dia da consciência negra – de O Estado de São Paulo traz, em dois textos, elementos que podem ajudar a aprofundarmos o olhar sobre a situação. Na reportagem”Regularização de favelas é a maior da história do Rio“, o jornal nos mostra como junto com a “pacificação” (interessante esta paz trazida por blindados da Marinha e que regula e oprime comportamentos, horários e até orientação sexual de moradores, como já foi denunciado) de determinados morros do Rio se dá um aceleramento da regularização dos títulos de propriedade dos moradores destas zonas invariavelmente ocupadas ilegalmente.
Motivação absolutamente compreensível por parte dos moradores, que querem ter legal aquilo que já é seu, a regularização destas propriedades traz consigo os olhares sedentos da especulação imobiliária, que agora tem interesse nestas zonas da cidade anteriormente sem utilidade mercadológica, e que ainda por cima se valorizaram com a “chegada do Estado” e toda a campanha midiática de legitimação realizada em seu entorno, e também por obras do PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento) do governo federal.
Como Chico de Oliveira sempre demonstrou, a moradia irregular nos centros urbanos teve papel importante na consolidação do capitalismo brasileiro, permitindo que os salários necessários para a reprodução dos trabalhadores fossem o menor possível. Hoje, no entanto, cada vez mais trabalhadores e mesmo membros do “exército de reserva” são convertidos em “populações excedentes/ consumidores falhos” ou “sujeitos monetários sem dinheiro”, se preferirmos as classificações de Zygmunt Baumman ou Roberto Schwarz, respectivamente, e a estes não cabe lugar nenhum no ordenamento social atual, geralmente conhecido como neoliberalismo. E mesmo aos “incluídos” não podem mais serem destinadas as áreas de dentro das cidades, somente periferias cada vez mais distantes, por conta ou de uma classe média eternamente endividada que pode investir em imóveis ou de investimentos mais luxuosos.
“A valorização da área é natural. A remoção branca (sem uso de força) é inevitável”, diz Luiz Antonio Machado, pesquisador ouvido pela reportagem, que diz ter receio da expulsão das atuais populações das favelas pela força do dinheiro. “Sei que é polêmico, mas era melhor não mexer nessa casa de marimbondos”, afirma nas parcas linhas que lhe são concedidas. Já o economista Paulo Rabelo de Castro, defensor dos títulos propriedade utilizado como “outro lado” na matéria da edição impressa, não vê mal nenhum que os morros, por sua ótima localização, sejam convertidos por exemplo em hotéis de luxo – “qual o problema?” ele questiona.
Assim como no projeto da Nova Luz (muito bem retratado por reportagem especial do Brasil de Fato) por trás do suposto combate ao crack há a sombra dos mesmos interesses imobiliários que financiam boa parte dos políticos brasileiros, também no caso das UPP’s a palavra especulação parece ter preponderância sobre o fantasma da “droga”.
Modificação na estrutura do tráfico
Outro elemento nos traz o sociólogo Luiz Eduardo Soares, que em artigo no caderno Aliás diz temer que a presença do “punho de ferro” do Estado – que invariavelmente acompanha a “mão livre do mercado” como lembra Loic Wacquant – apenas sirva para modernizar o comércio ilegal de drogas. Ele usa como exemplo um suposto encontro realizado em 1997 entre empresários e representantes do cartal narcotraficante de Cali, na Colômbia, que disseram ter desistido de um plano de investir no mercado carioca de psicoativos ilícitos por conta da imprevisibilidade das transações por lá.
“Calcularam custos e benefícios, e, finalmente, desistiram. Concluíram que seria inviável organizar uma estrutura de distribuição economicamente racional, em grande escala, à semelhança da rede que funcionava na Europa, abastecida por transporte marítimo, via Inglaterra. O obstáculo no Rio era o faccionalismo dos grupos armados, cuja irracionalidade era agravada pelo envolvimento policial”, relata Soares.
Em entrevista concedida à revista Caros Amigos em 2009, Nilo Batista defende que para a compreensão das políticas de segurança dos governos de Sérgio Cabral e Eduardo Paes seria fundamental analisar a diferente forma com a qual são tratados os distintos “comandos” ou facções criminais da cidade. Além dele, vez ou outra vozes se levantam afirmando haver maior incidência de operações militares em morros de determinado comando (de temidas iniciais CV), em detrimento de outros ou milícias, mas pouco se discute a respeito.
Se, mesmo com a penetração de milicianos nos poderes sendo fato inquestionável, uma atuação estatal explicitamente alinhada a determinado grupo criminoso é difícil de comprovar e pode até soar como “teoria da conspiração”, seria exagerado também supor que estaria o Estado intervindo diretamente no cenário a fim de garantir, de forma mais ou menos matizada, a depender da análise, um cenário melhor para os investimentos daqueles que realmente lucram com o comércio de drogas?
“O modelo de organização e operação do tráfico de drogas no Rio sempre foi irracional e tenderia a tornar-se insustentável. É muito caro manter controle armado e ostensivo sobre territórios e populações, dividindo lucros com policiais. Exercer esse controle exige a organização de equipes numerosas, disciplinadas, hierarquizadas, dispostas a assumir riscos extremos. Os benefícios podem ser obtidos com muito menos gastos e riscos, quando se opera com estruturas leves, adotando-se vendas por delivery ou por agentes nômades, circulando em áreas selecionadas –como ocorre nas grandes cidades dos países centrais”, analisa Soares, que depois defende o modelo das UPP’s, que para ele deve vir acompanhado de transformações profundas na polícia.
Talvez o que Soares vê como possível, e indesejada, consequência da atuação estatal baseada somente na militarização – e certamente é só a isso que ela irá se reduzir, ou alguém espera algum tipo de programa social implementado sob a liderança de Secretarias de Segurança? – possa constituir uma determinação de tais processos, uma motivação.
Por enquanto são só hipóteses, carentes de melhor desenvolvimento e “amarração”. Cabe a nós, com motivos de sobra para desconfiar do Estado brasileiro e de seus operadores e financiadores, investigar, e comprová-los ou não. Somente o fato delas não parecerem tão absurdas assim já me parece preocupante.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sentada a beira do caminho



O Cego de Jericó - Evangelho (Lucas 18,35-43)

35 Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36 Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. 37 Disseram-lhe que Jesus Nazareno estava passando por ali. 38 Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 39 As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”
40 Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou:41 “Que queres que eu faça por ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar de novo”. 42 Jesus disse: “Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. 43 No mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo deu louvores a Deus.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dia de Todos os Santos

As nuvens se aproximaram dos morros pela manhã no Rio, dando origem a belos cenários como este, fotografado pelo leitor Marcos Estrella  (O Globo).

O Cristo Redentor nas nuvens.
O Cristo Ressuscitado.
A comunhão dos Santos.
Amém!








quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Doutrina de Choque - Ocupação de Wall Street


Este guia foi feito em solidariedade com o movimento occupy wall street e não é diretamente afiliado

O método abaixo é usado por muitas pessoas, incluindo fotógrafos na Grécia durante protestos

DEFESA CONTRA GÁS LACRIMOGÊNIO

As dicas a seguir devem ser usadas apenas para defesa pessoal e em eventos onde a polícia/oficiais do governo usarem gás lacrimogênio em protestos pacíficos. Nunca incite a violência.

ITENS DE QUE VOCÊ PRECISA

Máscaras para pintura/contra poeira
(Encontrada em lojas de materiais de construção)
Proteção para os olhos
(Também nestas lojas)
Borrifador de água
(Cuidado para não usar garrafas com produtos de limpeza)
Antiácido líquido
(Qualquer um, como Maalox ou Mylanta)

AJUDE VOCÊ MESM@ E OS OUTROS

- Depois de usar o método do antiácido líquido e água em você mesm@, use o borrifador em pessoas que venham até você pedindo ajuda. Borrife no rosto e na boca;
- Se você estiver usando proteção para os olhos ou a máscara, tenha atitude e chute a lata de gás pra longe da multidão. Se você chutar no esgoto ou mergulhar na água, você reduzirá os efeitos;
- Aja pacificamente. Protestos pacíficos são a única forma de ser levad@ a sério e de ser verdadeiramente ouvid@.

CONHEÇA SEU INIMIGO
Gás lacrimogênio é uma arma química não letal que estimula os nervos da córnea e faz lacrimejar, causa dor e até cegueira. O gás atua na irritação das membranas e muco dos olhos, nariz, boca e pulmões, e causa o lacrimejar, espirros, tosse, dificuldade para respirar, dor nos olhos, cegueira temporária, etc.

REMÉDIO PARA GÁS LACRIMOGÊNIO (Antiácido Líquido e Água - ALA)
Esteja preparad@ para se expor. O gás lacrimogênio é composto por partículas, não é realmente um gás, assim as máscaras de pintura/contra poeira ajudam.

"Os gregos estão qualificados para escolher o equipamento de proteção correto. Maalox é o máximo"

1) Encontre um bom borrifador e limpe-o bem;
2) Encha metade da garrafa com antiácido líquido (Maalox);
3) Encha a outra metade com água;
4) Quando se expor, borrife nos olhos e boca e engula.

Também é eficaz como recurso para "spray" de pimenta

Um estudo baseado na Universidade da Califórnia verificou que a aplicação de antiácidos para dor induzida por capsaicina é eficaz, particularmente no tratamento logo após a exposição da capsaicina refinada.


FIQUE ESPERT@. FIQUE UNID@. FIQUE INFORMAD@. PROTEJA SUAS/SEUS COMPAS. NÃO ACREDITE NA MÍDIA.
11 de Outubro de 2011 às 10:27

Naomi Klein



Eu amo vocês.
E eu não digo isso só para que centenas de pessoas gritem de volta “eu também te amo”, apesar de que isso é, obviamente, um bônus do microfone humano. Diga aos outros o que você gostaria que eles dissessem a você, só que bem mais alto.
Ontem, um dos oradores na manifestação dos trabalhadores disse: “Nós nos encontramos uns aos outros”. Esse sentimento captura a beleza do que está sendo criado aqui. Um espaço aberto (e uma ideia tão grande que não pode ser contida por espaço nenhum) para que todas as pessoas que querem um mundo melhor se encontrem umas às outras. Sentimos muita gratidão.
Se há uma coisa que sei, é que o 1% adora uma crise. Quando as pessoas estão desesperadas e em pânico, e ninguém parece saber o que fazer: eis aí o momento ideal para nos empurrar goela abaixo a lista de políticas pró-corporações: privatizar a educação e a seguridade social, cortar os serviços públicos, livrar-se dos últimos controles sobre o poder corporativo. Com a crise econômica, isso está acontecendo no mundo todo.
Só existe uma coisa que pode bloquear essa tática e, felizmente, é algo bastante grande: os 99%. Esses 99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer: “Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”.
Esse slogan começou na Itália em 2008. Ricocheteou para Grécia, França, Irlanda e finalmente chegou a esta milha quadrada onde a crise começou.
“Por que eles estão protestando?”, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: “por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.” E, acima de tudo, o mundo diz: “bem-vindos”.
Muitos já estabeleceram paralelos entre o Ocupar Wall Street e os assim chamados protestos antiglobalização que conquistaram a atenção do mundo em Seattle, em 1999. Foi a última vez que um movimento descentralizado, global e juvenil fez mira direta no poder das corporações. Tenho orgulho de ter sido parte do que chamamos “o movimento dos movimentos”.
Mas também há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.
O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.
Ser horizontal e democrático é maravilhoso. Mas esses princípios são compatíveis com o trabalho duro de construir e instituições que sejam sólidas o suficiente para aguentar as tempestades que virão. Tenho muita fé que isso acontecerá.
Há outra coisa que este movimento está fazendo certo. Vocês se comprometeram com a não-violência. Vocês se recusaram a entregar à mídia as imagens de vitrines quebradas e brigas de rua que ela, mídia, tão desesperadamente deseja. E essa tremenda disciplina significou, uma e outra vez, que a história foi a brutalidade desgraçada e gratuita da polícia, da qual vimos mais exemplos na noite passada. Enquanto isso, o apoio a este movimento só cresce. Mais sabedoria.
Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.
Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.
Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.
A questão é que hoje todos são capazes de ver que o sistema é profundamente injusto e está cada vez mais fora de controle. A cobiça sem limites detona a economia global. E está detonando o mundo natural também. Estamos sobrepescando nos nossos oceanos, poluindo nossas águas com fraturas hidráulicas e perfuração profunda, adotando as formas mais sujas de energia do planeta, como as areias betuminosas de Alberta.
A atmosfera não dá conta de absorver a quantidade de carbono que lançamos nela, o que cria um aquecimento perigoso. A nova normalidade são os desastres em série: econômicos e ecológicos.
Estes são os fatos da realidade. Eles são tão nítidos, tão óbvios, que é muito mais fácil conectar-se com o público agora do que era em 1999, e daí construir o movimento rapidamente.
Sabemos, ou pelo menos pressentimos, que o mundo está de cabeça para baixo: nós nos comportamos como se o finito – os combustíveis fósseis e o espaço atmosférico que absorve suas emissões – não tivesse fim. E nos comportamos como se existissem limites inamovíveis e estritos para o que é, na realidade, abundante – os recursos financeiros para construir o tipo de sociedade de que precisamos.
A tarefa de nosso tempo é dar a volta nesse parafuso: apresentar o desafio à falsa tese da escassez. Insistir que temos como construir uma sociedade decente, inclusiva – e ao mesmo tempo respeitar os limites do que a Terra consegue aguentar.
A mudança climática significa que temos um prazo para fazer isso. Desta vez nosso movimento não pode se distrair, se dividir, se queimar ou ser levado pelos acontecimentos. Desta vez temos que dar certo. E não estou falando de regular os bancos e taxar os ricos, embora isso seja importante.
Estou falando de mudar os valores que governam nossa sociedade. Essa mudança é difícil de encaixar numa única reivindicação digerível para a mídia, e é difícil descobrir como realizá-la. Mas ela não é menos urgente por ser difícil.
É isso o que vejo acontecendo nesta praça. Na forma em que vocês se alimentam uns aos outros, se aquecem uns aos outros, compartilham informação livremente e fornecem assistência médica, aulas de meditação e treinamento na militância. O meu cartaz favorito aqui é o que diz “eu me importo com você”. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer “deixe que morram”, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical.
Algumas ideias finais. Nesta grande luta, eis aqui algumas coisas que não importam:
· Nossas roupas.
· Se apertamos as mãos ou fazemos sinais de paz.
· Se podemos encaixar nossos sonhos de um mundo melhor numa manchete da mídia.
E eis aqui algumas coisas que, sim, importam:
· Nossa coragem.
· Nossa bússola moral.
· Como tratamos uns aos outros.
Estamos encarando uma luta contra as forças econômicas e políticas mais poderosas do planeta. Isso é assustador. E na medida em que este movimento crescer, de força em força, ficará mais assustador. Estejam sempre conscientes de que haverá a tentação de adotar alvos menores – como, digamos, a pessoa sentada ao seu lado nesta reunião. Afinal de contas, essa será uma batalha mais fácil de ser vencida.
Não cedam a essa tentação. Não estou dizendo que vocês não devam apontar quando o outro fizer algo errado. Mas, desta vez, vamos nos tratar uns aos outros como pessoas que planejam trabalhar lado a lado durante muitos anos. Porque a tarefa que se apresenta para nós exige nada menos que isso.
Tratemos este momento lindo como a coisa mais importante do mundo. Porque ela é. De verdade, ela é. Mesmo.
Discurso originalmente publicado no The Nation. Tradução para o português do Brasil, de Idelber Alvelar, da Revista Fórum.



'A doutrina do choque'. O tema do novo livro da ativista Naomi Klein 



Arquivado em: Política
Escrito por Naomi Klein

Dom, 30 de Setembro de 2007 13:02

Reproduzimos entrevista com Naomi Klein, que lançou um livro interessante. Pretende unir vários acontecimentos do século XX com mudanças econômicas, tais como as propagadas por figuras como Milton Friedman e Friedrich Hayek. Daí o título das mudanças econômicas associadas a outros acontecimentos: "A doutrina do choque" (com esse vídeo de divulgação). Lá vai (Fonte: Unisinus, dica do Desobediente):


O golpe de Pinochet no Chile. O massacre da Praça de Tiananmen. O Colapso da União Soviética. O 11 de setembro de 2001. A guerra contra o Iraque. O tsunami asiático e o furacão Katrina. O que todos esses acontecimentos têm em comum? É o que a ativista canadense antiglobalização Naomi Klein explica em seu novo livro The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism [A doutrina do choque: O auge do capitalismo do desastre] – ainda sem tradução para o português. Naomi Klein em uma longa entrevista para o sítio La Haine, 27-09-2007, afirma que a história do livre-mercado contemporâneo foi escrita em choques e que os eventos catastróficos são extremamente benéficos para as corporações. Ao mesmo tempo a autora revela que os grandes nomes da economia liberal, como Milton Friedman, defendem o ‘capitalismo do desastre’. A tradução é do Cepat.

O que é exatamente a doutrina do choque?

A doutrina do choque como todas as doutrinas é uma filosofia de poder. É uma filosofia sobre como conseguir seus próprios objetivos políticos e econômicos. É uma filosofia que sustenta que a melhor maneira, a melhor oportunidade para impor as idéias radicais do livre-mercado é no período subseqüente ao de um grande choque. Esse choque poder ser uma catástrofe econômica. Pode ser um desastre natural. Pode ser um ataque terrorista. Pode ser uma guerra. Mas, a idéia é que essas crises, esses desastres, esses choques abrandam a sociedades inteiras. Deslocam-nas. Desorientam as pessoas. E abre-se uma ‘janela’ e a partir dessa janela se pode introduzir o que os economistas chamam de ‘terapia do choque econômico’.

É uma espécie de extrema cirurgia de países inteiros. E tudo de uma vez. Não se trata de um reforma aqui, outra por ali, mas sim uma mudança de caráter radical como o que vimos acontecer na Rússia nos anos noventa, o que Paul Bremer procurou impor no Iraque depois da invasão. De modo que é isso a doutrina do choque. E não significa que apenas os direitistas em determinada época tenham sido os únicos que exploraram essa oportunidade com as crises, porque essa idéia de explorar uma crise não é exclusividade de uma ideologia em particular. Os fascistas também se aproveitaram disso, os comunistas também o fizeram.


Explique quem é Milton Friedman, a quem ataca energicamente nesse livro?

Bem, ataco Milton Friedman porque é o símbolo da história que estou abordando. Milton Friedman morreu no ano passado. Morreu em 2006. E quando morreu, vimos como o descreveram em tributos pomposos como se fosse provavelmente o intelectual mais importante do período pós-guerra. Não apenas o economista mais importante, mas o intelectual mais importante. E é verdade que se pode construir um argumento contundente nesse sentido. Foi conselheiro de Thatcher, de Nixon, de Reagan, do atual governo Bush. Deu aulas a Donald Rumsfeld no início de sua carreira. Assessorou Pinochet nos anos setenta. Também assessorou o Partido Comunista da China no período chave da reforma ao final dos anos oitenta.

Sendo assim, teve uma influência enorme. Falei outro dia com alguém que o descreveu como o Karl Marx do capitalismo. E acredito que não é uma comparação ruim, mesmo que esteja segura de que Marx não gostaria nem um pouco. Mas foi realmente um popularizador dessas idéias.

Tinha uma visão de sociedade na qual o único papel aceitável para o Estado era o de implementar contratos e proteger fronteiras. Tudo o demais deve ser entregue por completo ao mercado, seja a educação, os parques nacionais, os correios, tudo o que poderia produzir algum lucro. E realmente viu, suponho, que as compras – a compra e a venda – constituem a forma mais elevada de democracia, a forma mais elevada de liberdade. O seu livro mais conhecido é Capitalism and Freedom [Capitalismo e liberdade].

Quando da sua morte no ano passado, percebemos o como essas idéias radicais de livre mercado chegaram a dominar o mundo, de como varreram a antiga União Soviética, a América Latina, a África, de como essas idéias triunfaram durante os últimos trinta e cinco anos. E isso me impressionou muito, porque já estava escrevendo esse livro. Nessas idéias - que tanto se falou quando da morte de Friedman -, nunca ouvimos falar de violência, nunca ouvimos falar de crises e nunca ouvimos falar de choques. Ou seja, a história oficial é de que estas idéias triunfaram porque desejávamos que assim o fosse, que o Muro de Berlim caiu porque as pessoas exigiram ter seus Big Macs junto com a sua democracia. E a história oficial do auge dessa ideologia passa por Margaret Thatcher dizendo: “Não há alternativa”, à Francis Fukuyama afirmando que “a história terminou, o capitalismo e a liberdade caminham juntos”.

Portanto, o que procuro fazer nesse livro é contar a mesma história, a conjuntura crucial nos qual essa ideologia entrou com força, mas re-introduzo a violência, re-introduzo os choques e, digo que existe uma relação entre os massacres, entre as crises, entre os grandes choques e os duros golpes contra vários países e a capacidade de imposição de políticas que são rejeitadas pela grande maioria das pessoas desse planeta.


Você fala de Milton Friedman. Qual a relação com a ‘Escola de Chicago’?
A influência de Milton Friedman provém do seu papel como o popularizador real do que é conhecido como a ‘Escola de Chicago’. Ele foi professor na Universidade de Chicago. Estudou na Universidade de Chicago e na seqüência foi professor nessa instituição. O seu mentor foi um dos economistas mais radicais do livre mercado da nossa época,Friedrich Von Hayek que foi professor na Universidade de Chicago.

A Escola de economia de Chicago representa essa contra-revolução contra o Estado de bem estar social. Nos anos cinqüenta, Harvard e Yale e as oito escolas mais prestigiadas dos EUA estavam dominadas por economistas keynesianos, pessoas como John Kenneth Galbraith, que acreditava que depois da grande depressão, era crucial que a economia funcionasse com uma força moderadora do mercado. E foi a partir daí que nasceu um ‘novo contrato’, a do Estado de bem estar social e tudo isso que faz com que o mercado seja menos brutal e se tenha uma espécie de sistema público de saúde, seguro desemprego, assistência social, etc.

A importância do Departamento de Economia da Universidade de Chicago é que realmente ele foi um instrumento de Wall Street, que financiou muito, muito consideravelmente a Universidade de Chicago. Walter Wriston, o chefe do Citibank era muito amigo de Milton Friedman e a Universidade de Chicago se converteu em uma espécie de ponto de partida da contra-revolução contra o keynesianismo e o novo contrato social com o objetivo de desmanchá-lo.


Qual a relação da Escola de Chicago com o Chile?

Depois da eleição de Salvador Allende, a eleição de um socialista democrático, em 1970, houve um complô para derrubá-lo. Nixon disse genialmente: “Que a economia grite”. E o complô teve numerosos elementos, embargos, etc e finalmente o apoio para o golpe de Pinochet em setembro de 1973. Escutamos muito falar nos ‘Chicago Boys’ no Chile, mas não sabemos detalhes sobre o que foram na realidade.

O que faço no livro é contar esse capítulo da história. (...) Em 11 de setembro de 1973, enquanto os tanques rodavam pelas ruas de Santiago e o palácio presidencial ardia e Salvador Allende era morto, um grupo dos assim chamados ‘Chicagos Boys’, assumia o controle da economia. Economistas chilenos que haviam sido levados para a Universidade de Chicago para estudar com bolsas do governo dos EUA como parte de uma estratégia deliberada para orientar a direita latino-americana.

Tratou-se de um programa ideológico financiado pelo governo dos EUA, parte do que o ex-ministro do exterior chama de “um projeto de transferência ideológica deliberada”, ou seja, levar esses estudantes a uma escola distante, na Universidade de Chicago e doutriná-los num tipo de economia que era marginal nos EUA na época e enviá-los de volta para casa como guerreiros ideológicos.


Falemos do choque no sentido da tortura...

Começo o livro estudando dois laboratórios para a doutrina do choque. Como disse anteriormente, considero que há diferentes formas de choque. Um deles é o choque econômico e o outro o choque corporal, os choques nas pessoas. E nem sempre acontecem juntos, mas estiveram presentes em conjunturas cruciais. Assim que um dos laboratórios para essa doutrina foi a Universidade de Chicago nos anos cinqüenta, quando todos esses economistas latino-americanos foram treinados para se converter em terapeutas do choque econômico. Outro – e não se trata de uma espécie de grandiosa conspiração – foi a Universidade McGill nos anos cinqüenta.

A Universidade McGill foi o ponto de partida para os experimentos que a CIA financiou para aprender sobre tortura. Quero dizer, foi chamado ‘controle da mente’ na época ou ‘lavagem cerebral’. Agora compreendemos, graças ao trabalho de gente como Alfred McCoy, que consta em seu programa que o que realmente pesquisavam nos anos cinqüentas sob o programa MK-ULTRA, foram experimentos de eletrochoques extremos, LSD, PCP, extrema privação sensorial, sobrecarga sensorial, tudo isso que vemos hoje utilizados em Guantánamo e Abu Ghraib. Um manual para desfazer personalidades, para a regressão total de personalidades. (...) McGill realizou parte dos seus experimentos fora dos EUA, porque assim considerava melhor a CIA.

Em Montreal?

Sim. McGill em Montreal. Na época então, o chefe de psiquiatria era um individuo chamado Ewen Cameron. Na realidade se tratava de um cidadão estadunidense. Foi anteriormente chefe da Associação de Psiquiatria Estadunidense. Foi para McGill para ser chefe de psiquiatria e para dirigir um hospital chamado de Allan Memorial Hospital, que era um hospital psiquiátrico. Recebeu financiamento da CIA e transformou o Allan Memorial Hospital em um laboratório extraordinário para o que agora consideramos técnicas alternativas de interrogatório. Dopava os seus pacientes com estranhos coquetéis de drogas, como LSD e PCP. Os fazia dormir, uma espécie de estado de coma durante um mês. Colocou alguns dos seus pacientes em uma situação de privação sensorial extrema e a intenção era que perdessem a idéia de espaço e tempo. Ewen Cameron dizia acreditar que a doença mental poderia ser tratada tomando pacientes adultos e reduzindo-os ao estado infantil. (...) Foi esta a idéia que atraiu a atenção da CIA, a de induzir deliberadamente uma regressão extrema.


Você falou do Chile, falemos do Iraque da privatização da guerra no Iraque - O governo iraquiano anulou a licença da companhia de segurança estadunidense Blackwater.
Esta é uma notícia extraordinária. Quero dizer, é a primeira vez que uma dessas firmas mercenárias é realmente considerada responsável. Como escreveu Jeremy Scahill em seu incrível livro ‘Blackwater: The Rise of the [Word´s] Most Powerful Mercenary Army’, o verdadeiro problema é que nunca houve processos. Essas companhias trabalham em uma ‘zona cinzenta’, ou são boy scouts e nada lhes acontecia. (...) Isso significa que se o governo iraquiano realmente expulsar Blackwater do Iraque, poderia ser um fato e tanto para submeter essas companhias à lei e questionar toda premissa de porque até agora se permitiu que se tivesse lugar este nível de privatização e de ilegalidade.

(...) Algo em que eu penso pela pesquisa que eu fiz para o livro No Logo se entrecruza com esta etapa do capitalismo do desastre em que estamos metidos agora. Rumsfeld [ex-Secretário de Defesa de Bush] aproveitou a revolução de percepção das marcas dos anos noventa, na qual a projeção de marcas corporativas – no sentido do que descrevo em No Logo – em que essas companhias deixaram de produzir produtos e anunciaram que já não produziam produtos, mas produziam marcas, produziam imagens e deixam que outros, terceirizados, façam o trabalho sujo de fabricar as coisas. E essa foi a espécie de revolução na sub-contratação e esse foi o paradigma da corporação ‘vazia’.

Rumsfeld se encaixa nessa tradição. E quando se tornou Secretário de Defesa, agiu como age um novo executivo da nova economia que se viu na tarefa de reestruturações radicais. Mas, o que fez foi adotar essa filosofia da revolução no mundo corporativo e aplicá-la à forças-armadas. (...) essencialmente o papel do exército é criar a percepção de marca, é comercializar, é projetar a imagem de força e dominação no globo – porém sub-contratando cada função, da atenção à saúde – administrando a atenção de saúde aos soldados – à construção de bases militares, que já estava acontecendo durante o governo de Clinton, ao papel que Blackwater desempenha e companhias como DynCorp, que como se sabe, destacou Jeremy, participam realmente em combates.


Comente a destruição do Iraque, do ‘Choque e Pavor’, da terapia econômica do choque de Paul Bremer, o choque da tortura, assim como a junção de todas essas coisas no Iraque.
Como já disse, no Chile, vimos esta fórmula do triplo choque. E eu penso que vemos a mesma fórmula do triplo choque no Iraque. Primeiro foi a invasão, a invasão militar de ‘choque e pavor’ – muitas pessoas pensam no tema apenas como se tratasse de um montão de bombas, um montão de mísseis, mas é realmente uma doutrina psicológica que em si é um crime de guerra, porque se diz que na primeira Guerra do Golfo, o objetivo foi atacar a infraestrutura de Sadam, mas sob uma campanha de ‘choque e pavor’, o objetivo é a sociedade em escala maior. È um princípio da doutrina ‘choque e pavor’.

Agora, o ataque de sociedades em escala maior é castigo coletivo, o que constitui crime de guerra. Não é permitido que os exércitos ataquem às sociedades em escala maior, apenas é permitido que ataquem os exércitos. A doutrina é verdadeiramente surpreendente, porque fala de privação sensorial em escala massiva. Fala de cegar, de cortar os sentidos de toda uma população. E o que vimos durante a invasão, o apagão de luzes, o corte de toda a comunicação, o emudecimento dos telefones e logos os saques, que não acredito que façam parte da estratégia, mas imagino que não fazer nada faz parte da estratégia, porque sabemos que houve uma série de advertências que falava em proteger os museus, as bibliotecas e nada se fez. E depois temos a famosa declaração de Donald Rumsfeld quando foi confrontado com este fato: “Essas coisas passam”.

(...) O objetivo, usando a famosa frase do colunista do New York Times, Thomas Friedman, não é o de construir a nação, mas sim “criar a nação”, que é uma idéia extraordinariamente violenta.


Nova Órleans?

Nova Órleans é um exemplo clássico do que eu chamo de doutrina do choque do capitalismo do desastre porque houve um primeiro choque que foi o alagamento da cidade. E como se sabe, não foi um desastre natural. E a grande ironia do caso é que realmente foi um desastre dessa mesma ideologia de que estávamos falando, o abandono sistemático da esfera pública. Eu penso que cada vez mais vamos ver acontecimentos assim. Quando se têm vinte e cinco anos de contínuo abandono da infra-estrutura pública e do esqueleto do Estado – o sistema de transporte, as estradas, os diques. A sociedade de engenheiros civis estadunidense calculou que colocar em condições o esqueleto do Estado custaria 1,5 bilhões de dólares. Portanto, o que temos é uma espécie de tormenta perfeita, na qual o debilitado Estado frágil se entrecruza com um clima cada vez pior, que diria que também faz parte desse mesmo frenesi ideológico em busca de benefícios a curto prazo e crescimento a curto prazo. E quando estes dois entram em coalizão, vem um desastre. É o que ocorreu em Nova Órleans.

O que a mais horrorizou ao pesquisar a doutrina do choque?
Horrorizou-me o fato que se tem por aí muita literatura que eu não sabia que existia e que os economistas a admitem. Uma quantidade de citações de propugnadores da economia de livre-mercado, todos desde Milton Friedman a John Williamson, que é o homem que cunhou a frase ‘Consenso de Washington’, admitindo entre eles, não em público, mas sim entre eles, como em documentos tecnocráticos, que nunca conseguiram impor uma cirurgia radical do livre-mercado se não acontece uma crise em grande escala, ou seja, as mesmas pessoas que propugnam que o mito central da nossa época, que a democracia e o capitalismo caminho juntos, sabe que se trata de uma mentira e o admitem por escrito.


Leia o livro traduzido, em formato PDF:
http://www.smartbook.pt/uploads/book_files/50.pdf


Livre transcrição do vídeo

PARTE 01/09

O que nos mantém orientados, alertas e fora de choque é a nossa História.

A história começa em 1 de junho de 1951, Montreal, estudos sobre os efeitos da privação sensorial, realizados na Universidade McGill, patrocinados pela CIA.

Dr Donald Hebb
"A privação sensorial é uma forma de produzir monotonia extrema. causa a perda da capacidade crítica, o pensamento fica menos claro, os pacientes queixam-se de que não conseguem sonhar. Quando nem universitários podem sonhar, as coisas ficam difíceis.
Durante as nossas experiências, comecei a pensar que é possível, que o desconforto físico, ou mesmo a dor sejam mais toleráveis do que as condições de privação que estudamos. “Não fazia idéia quando propus de que isso poderia ser uma arma potencialmente perigosa.”

(Dr. Ewen Cameron,
ambicioso chefe de psiquiatria, continuou as pesquisas após Dr. Hebb ter deixado o projeto.)

"Ele fez bem mais do que nós fizemos. Fizemos o nosso trabalho sabendo que os pacientes podiam sair quando quisessem, e alguns saíram."

(Os pacientes de Cameron não tiveram a mesma sorte. O Instituto Memorial Allan, onde ele trabalhou, começou a parecer uma prisão macabra, onde Cameron realizava experiências bizarras com os seus pacientes da psiquiatria. Cameron queria apagar a mente dos seus pacientes para que pudesse reconstruí-la a partir do zero.)

Janine Huard,
era uma jovem mãe de 4 filhos, que sofria de depressão pós-natal.
" Estremecia quando me diziam: 'Amanhã você sofrerá terapia de choque'. Estremecia. Eu tinha muito medo. Acordava noutro quarto, confusa, triste. Eu ficava muito triste depois. Éramos Zombies perambulando." ( Cameron combinava a terapia de choque com a terapia do sono repetindo mensagens gravadas.) Dizia: "Janine, Janine, você está fugindo das suas responsabilidades. Você não quer cuidar do seu marido e filhos. Repetidamente. ( Parece que ela estava sendo interrogada?) Sim. Um interrogatório, mas com que propósito?"

Não demorou para a CIA pôr em prática a pesquisa de Cameron. Muitas de suas técnicas aparecem no manual Kubark de interrogatório de contra-inteligência da CIA.

Estes trechos são do manual:
" É uma hipótese fundamental deste manual que estas técnicas são métodos de indução de regressão da personalidade. Há um intervalo que pode ser muito curto, de animação suspensa, uma espécie de choque psicológico ou paralisia. Interrogadores experientes reconhecem quando surgem esses sintomas. Sabem que nesse instante, a "fonte" é mais suscetível a sugestionamento, mais propensa a cooperar que antes de receber o choque."

O OUTRO DOUTOR CHOQUE

Na mesma época que Ewen Cameron, fazia suas experiências em Montreal, um expoente de outro tipo de choque trabalhava não muito distante.

Milton Friedman,
lecionava Economia na Universidade de Chicago.
Ele acreditava que a terapia de choque econômico poderia estimular sociedades a aceitar uma forma mais pura de capitalismo desregulado.

Em Outubro de 2008, no meio da maior crise financeira desde 1929, Naomi Klein foi à Universidade de Chicago, para falar sobre Milton Friedman.

"Quando Milton Friedman completou 90 anos, o governo Bush organizou-lhe uma festa de aniversário. Todos fizeram discursos, incluindo George Bush. Mas o melhor discurso foi o de Donaldo Rumsfeld. A minha frase favorita do discurso de Rumsfeld é a seguinte: ' Milton é a personificação da verdade de que as idéias têm conseqüências." O que eu quero sustentar aqui, é que o caos econômico que vemos em Wall Street, nas ruas e em Washington deve-se a muitos fatores, claro, mas dentre eles, estão as idéias de Milton Friedman."

(A quebra de Wall Street de 1929 levou à Grande Depressão dos anos 30. No cerne da tese de Friedman, estava sua oposição ao New Deal, anunciado pelo presidente Roosevelt no seu discurso de posse.

“A nossa principal atribuição é pôr o povo para trabalhar. Não é um problema insolúvel, se o enfrentarmos com sabedoria e coragem. Gostaria de salientar que a única coisa que temos a temer é o próprio medo."

Influenciado pelo economista John Maynard Keynes, Roosevelt iniciou um programa de emprego público para que as pessoas voltassem a trabalhar.

" Hoje, a recessão é uma lembrança distante. Milhões de homens e mulheres encontram emprego e com ele a confiança e a esperança."

Não foi assim tão simples. A recessão durou até a II Guerra Mundial. Após a guerra, o Plano Marshall disseminou na Europa o modelo keynesiano de regulação pública e intervencionismo. Os seus princípios eram amplamente aceitos. (Mas não no Departamento de Economia da Universidade de Chicago.)

“Milton Frieldman a partir desta universidade, declarou guerra ao New Deal."

(Friedman era membro de um grupo, a Sociedade Monte Pèlerin, liderada pelo economista austríaco Friedrich von Hayek. Eles acreditavam que se o governo parasse de prover serviços e regular os mercados, a economia corrigir-se-ia sozinha. Nos anos 50. eles foram considerados loucos. Mas nos últimos 30 anos, as suas idéias tornaram-se a doutrina econômica dominante.)

“A tese da 'Doutrina de Choque' é que nos venderam como um conto de fadas sobre como essas políticas radicais dominaram o mundo. Elas não dominaram o mundo na esteira da liberdade e democracia, mas precisaram de choques, precisaram de crises e estados de emergência. Milton Friedman compreendia a utilidade da crise.” Só uma crise, real ou pressentida, produz verdadeira mudança. “Quando a crise acontece, as ações que são tomadas dependem das idéias à disposião.”

O PRIMEIRO TESTE: CHILE

Foi no Chile que os discípulos de Friedman aprenderam a explorar um choque ou crise em larga escala.

"Geralmente, as versões oficiais do neoliberalismo, os divulgadores oficiais, nem sequer mencionam o Chile. Começam a história com Thatcher e Reagan porque assim é mais lisonjeiro."

Nos anos 50 e 60, a política desenvolvimentista progressiva do Chile era um exemplo para a região. O governo investia na saúde, educação e indústria. As empresas americanas estavam preocupadas que os seus investimentos fossem afetados. Em resposta, o Departamento de Estado dos EUA começou a oferecer bolsas aos estudantes do Chile e America do Sul para estudar economia livre de mercado com Milton Friedman.
"A Universidade de Chicago tinha intercâmbio com a Universidade Católica do Chile, por meio do qual muitos alunos chilenos vieram a Chicago onde foram educados por nós e receberam doutoramento."