No dia 21 de junho de 2010, um forte estrondo, provocado por abalo nas estruturas da ala abandonada do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, levou os técnicos que avaliaram a situação a decidir pela demolição da parte afetada do prédio. No início do mês de novembro o hospital começou a ser desativado para possibilitar a realização da implosão, que aconteceu às 7h do dia 19 de dezembro de 2010.
Projeto Monumental
Arquipélago das 9 ILHAS de Manguinhos em 1945, que comporiam , após aterramentos, a Futura Cidade Universitária da UFRJ.
Acervo: Arquivo Histórico do ETU/UFRJ
Construção da Ilha Universitária e dos primeiros prédios- Hospitais, Engenharia, Arquitetura
Construção do inconcluído Hospital Universitário
A “inauguração” de nossa cidade universitária, na ilha do Fundão, deu-se “simbolicamente” em duas datas : em 01 de outubro de 1953, Getúlio Vargas inaugurou o Instituto de Pediatria e Puericultura. Posteriormente, a 7 de setembro de 1972, nas comemorações do sesquicentenário da independência, o General Médici “concluía” , oficialmente, a construção da cidade universitária, após sucessivos anos de paralisações . Este longo período de discussões, obras e interrupções já evidencia a problemática deste empreendimento. Num período de embates e polarizações ideológicas, a construção do campus de nossa universidade se mistura à própria história de nosso país.
Atualmente
A escala inusitada e gigantesca do hospital, com dois mil leitos e 200 mil m2, respondia à demanda de estabelecer uma referência nacional, de defini-lo como o ponto alto do principal centro universitário do País. Jorge Moreira assumiu o legado da significação simbólica do edifício conforme previsto nas propostas de Le Corbusier e Lúcio Costa (1936), que o identificava como o ícone principal do campus. Daí o cuidadoso e elaborado desenho, baseado em uma precisa geometria axial (a lâmina principal com as asas perpendiculares formando um duplo T), dois volumes de 11 pavimentos sustentados por pilotis de dupla altura, com um embasamento horizontal estendido ao longo da dimensão principal, que abrigava os principais serviços médicos para o grande público.
Mas a realidade ficou distante dos desejos, aspirações e ilusões dos intelectuais, arquitetos e políticos que imaginaram o futuro do Brasil nos anos de 1950. Com a mudança da capital para Brasília em 1960 as grandes obras federais para a agora velha capital foram paralisadas - como as da UFRJ. As obras do hospital permaneceram interrompidas até 1974, e naquele ano o governo militar decidiu completá-las para a abertura parcial do Hospital Universitário. Resolveu-se utilizar somente a metade da estrutura, sem qualquer reconhecimento ao projeto original.
Semi-abandonada e desprovida de manutenção por 50 anos, a estrutura de concreto armado da seção vazia não suportou a passagem do tempo e algumas colunas dos pilotis cederam, fato que levou à decisão da sua derrubada definitiva.
A primeira etapa do processo consistiu na demolição manual da ligação entre as duas alas do hospital - uma ocupada, outra há muito abandonada. Iniciada em agosto, esta etapa visava a abertura de um vão de 20 metros de largura entre as duas alas a fim de isolar a ala sul, cuja estrutura estava seriamente comprometida, e evitar que a parte ocupada do hospital fosse afetada por vibrações resultantes da implosão.
Diante dele, não há como não pensar em todos os desvarios que foram erguidos em nome da arquitetura moderna. Mas também em todos os desvarios que se seguiram – na arquitetura, na saúde pública, na política-, e obstaculizaram tanto a conclusão do hospital quanto o uso da parte nunca inaugurada do prédio para outros fins (como um hotel ou um alojamento, quem sabe).
O fato é que a demolição parcial do Hospital Universitário vai gerar mais uma mutilação irreparável na paisagem e no patrimônio da arquitetura moderna do Rio de Janeiro, que já padece com o corte feito ao edifício em curva de Affonso Eduardo Reidy na Gávea, nos anos 80. Então mesmo que a demolição seja necessária, que o custo da recuperação do edifício inteiro seja inviável, e até que este seja o ônus a ser pago pela utopia modernista, muitas pessoas estiveram no Fundão no último domingo antes do Natal, com a câmera na mão, e os olhos molhados.
A implosão de metade abandonada do Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil - a chamada "perna-seca" - não teve a mesma repercussão internacional que a demolição do conjunto habitacional Pruitt-Igoe em Saint Louis, de Minory Yamasaki (às 15h32 de 15 de julho de 1972), e que para muitos especialistas marcou o fim do movimento moderno e o início do chamado pós-modernismo.
A destruição de metade do edifício que abriga o hospital universitário ficará visível como uma eterna ferida, uma cicatriz arquitetônica, uma evidência da crise do projeto social associado ao movimento moderno. Na segunda metade do século 20 foram demolidos inúmeros prédios do movimento moderno no mundo. No entanto, não se tem notícia da "preservação" de metade de um edifício. Surgem sérias dúvidas sobre o valor estético de uma ruína modernista, como será a permanência da metade do hospital, convertida em uma triste imagem de um pesadelo que substituiu a concretização da utopia.
Segundo o reitor da UFFRJ, Aloísio Teixeira, um novo hospital será construído na área que ficará disponível após a remoção dos escombros. “Estamos virando uma página de megalomania, de autoritarismo e criando condições para avançar na construção de uma universidade melhor. Um sistema público de atenção à saúde melhor. Este hospital que estamos prevendo será mais amigável, mais moderno, com mais recursos, significando melhorias para a universidade e para a saúde do Rio de Janeiro”, afirma Teixeira.
Com a construção do novo hospital, a ala onde hoje funciona o atendimento clínico e ambulatorial do HUCFF, será aproveitada com salas de aula, gabinetes de professores e salas de pesquisa. Segundo Teixeira, uma emenda parlamentar assegura recursos para a elaboração do projeto básico. Com o compromisso dos ministérios da Educação e da Saúde, no repasse das verbas, o projeto executivo poderá estar concluído até o fim de 2011.
Baseada nos textos de Roberto Segre e José Barki, Ana Luiza Nobre e Rui Zilnet
Um comentário:
e ai babizinha, o q foi feito? dá news
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