sexta-feira, 8 de abril de 2011

Luto: massacre de Realengo




Ex-aluno mata 12 na escola Municipal Tasso da Silveira
imagens da câmera interna do colégio



Carta do assassino-suicida




Um dia triste de nossa história 

Tudo indica que foi um massacre planejado. Assim como há bons motivos para se acreditar que a loucura moveu o solitário autor dos tiros que mataram pelo menos 11 crianças e, por último, o próprio atirador. Crimes assim ocorrem vez ou outra nos Estados Unidos. Mas não por aqui.

Não há notícia de caso semelhante no Rio de Janeiro — até a manhã desta quinta-feira, em que um luto coletivo ofuscou a luz do sol não só no estado, mas em todo o país. Não há nada que possa aplacar a dor das famílias das meninas e meninos que perderam as vidas dessa forma tão estúpida. Não se tem ainda a dimensão do trauma representado por essa dura experiência para as crianças sobreviventes. Precisamos de tempo para dar conta de todos os significados possíveis de um surto de violência como esse que interrompeu a rotina numa escola pública de um bairro modesto da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Além da solidariedade, temos de estudar o que é possível fazer para amenizar os danos sofridos pelas vítimas, por suas famílias, pela comunidade escolar, pelo Rio de Janeiro. Nossa equipe da Comissão de Direitos Humanos vai à escola Tasso da Silveira, aos hospitais onde há vítimas internadas, aos pais que perderam os seus filhos para compreender melhor as suas necessidades neste primeiro momento — como, por exemplo, o acesso à assistência médica, psicológica e social. Pela CPI das Armas, também há pelo menos uma providência imediata a tomar: solicitar da Polícia Civil que providencie o rastreamento da arma e da munição que foram utilizadas por Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, o jovem quieto, de poucos amigos, que voltou a sua antiga escola para protagonizar um crime dos mais tristes de nossa história.



Visão de um educador:




Não podemos achar que as escolas devam ficar fechadas para a comunidade
Os problemas de segurança escolar não serão resolvidos com guardas armados em cada escola - isso é impossível.
Há muitas perguntas a serem feitas, a primeira é: por que o atirador voltou para a mesma escola em que estudou?
O que a escola significou em sua vida? Que tipo de comportamento ele tinha? Como eram as suas relações com os amigos?
 A escola precisa estar atenta ao comportamento dos alunos como os pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos.
É preciso ter serenidade para não usar uma ação tão triste como bandeira para soluções mágicas a antigos problemas.
Precisamos repensar o papel da escola: queremos formar para a vida ou formar repetidores de fórmulas?
É preciso desenvolver habilidades sociais e emocionais além das cognitivas no espaço sagrado da escola.

 Gabriel Chalita 




"Todos Chora"



Alerta: pode ter mais gente envolvida





A vida não pode parar por causa do medo, pais precisam trabalhar, filhos precisam estudar. 

Que todos ficam assustados, com medo, mas a vida deve continuar. 

Conversando Com Filhos Sobre As Desgraças Do Mundo
Creio eu que muitos pais ficam em dúvida sobre como explicar aos filhos episódios como o da chacina na escola de Realengo ou terremotos.

No Japão, apesar de ser um país praticamente sem violência, dona Natureza complica o panorama.
Por isso, crianças aprendem cedo quais os perigos que um terremoto representa.
Talvez o método usado no Japão seja útil para explicar às crianças brasileiras a questão da violência, ambas são situações de risco.

Crianças japonesas aprendem que um terremoto, tsunami, é algo que acontece independente da vontade humana. Que não é um fator controlável.
Apenas pode-se tentar evitar um mal maior através da precaução e medidas de emergência, já que não há meios de controlar esta força natural.
Ou seja, crescem conscientes de que o mundo tem seus perigos e problemas.
Pais explicam que sim, ficam também assustados, inseguros e não gostam de terremotos.
Mas que, caso ocorra um, vale é o sangue frio na hora de se proteger.
E principalmente muita união familiar, que fortalece o emocional e traz tranqüilidade para agir corretamente.
Pais não devem se por na posição de super-heróis, que não se abalam e nada temem, que podem proteger a família de todas as maneiras.
Assim a criança aprende que também precisa fazer a sua parte em uma situação de emergência: durante um terremoto, a criança vai se proteger em vez de ficar parada gritando "mamãe, papai, me salve".

Estes procedimentos salvaram muitas vidas no recente grande terremoto que tivemos.
Se não fossem as medidas/treinamento de prevenção e a infra-estrutura, milhões teriam morrido, a região atingida pelo terremoto Touhoku apresenta alta densidade demográfica.
Claro que no Rio de Janeiro o problema não foi um terremoto, mas a loucura humana.
É muito importante que pais em todo o Brasil, conversem sobre o ocorrido com seus filhos.
Não deixe que os pequenos absorvam apenas o conteúdo transmitido pela TV e noticiários.
Imagine a mente de uma criança, como fica, ao assistir horas de um Brasil Urgente, aqueles debates "edificantes" mediados por uma certa cantora de axé e semi-alfabetizados no horário nobre.
Ou programas vespertinos que são comandados por dois ex-jurados de Silvio Santos?
Então é bom que as crianças saibam que existem adultos loucos, maus, pedófilos e situações de risco.
Que devem evitar contato com estranhos, lugares que adultos dizem ser perigosos.
Que devem prestar atenção, cuidar de si mesmas quando não estão junto aos pais.
E caso aconteça situação semelhante ao caso de Realengo (por exemplo, a casa ser invadida por assaltantes ou um seqüestro), tentar se proteger da forma que puder e não ficar apenas em pânico.
Caso as crianças ficarem com medo de ir à escola, explique que não pode deixar-se dominar por uma situação dessas, permitir que o mal e o medo vençam.
A vida não pode parar por causa do medo, pais precisam trabalhar, filhos precisam estudar.
Que todos ficam assustados, com medo, mas a vida deve continuar.

Alexandre Mauj - jornalista e psicólogo

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