sexta-feira, 18 de março de 2011

Obama no Brasil


Por Reinaldo Azevedo


O vexame a que o governo americano submeteu o brasileiro não é pequeno nessa história do discurso em praça pública. Trato a questão com ironia desde a semana passada, quando afirmei que “Greta Garbo acabou na Cinelândia”. Condescendeu-se com um despropósito, e agora fica todo mundo fazendo muxoxo de desagrado. Parte da imprensa brasileira se comportou de um modo ridículo, vexatório, com uma sabujice constrangedora: não se distinguia dos marqueteiros de Sérgio Cabral e Eduardo Paes.
O governo brasileiro aceitou o inaceitável e depois levou um olé da turma de Obama. Sem mais nem menos, a agenda foi mudada, e o Planalto ficou pendurado na brocha. Engraçado, não? O absurdo estava, reitero, em concordar com a fala de Obama na praça. Mas se fez um silêncio sepulcral a respeito— bem, Tio Rei atirou, hehe… Quando o governo americano mudou de idéia, as críticas começaram a aparecer, também na imprensa, aí movidas pelo ressentimento: “Ele nos rejeitou!!!” Ou seja: governo e boa parte do jornalismo portaram-se como servos voluntários duas vezes: quando concordaram com a fala de Obama na Cinelândia e quando reagiram criticamente ao cancelamento do discurso.
Que coisa, né? Com o Apedeuta, o vexame seria diferente, já notei na semana passada. Quando a marquetagem de Obrama viesse coma proposta, Lula responderia imediatamente: “E eu vou discursar naquele jardim imenso do Capitólio, pode ser?” Os americanos, naturalmente, rejeitariam…
Ocorre que Dilma está na fase de consolidar a sua imagem junto àquilo que os petistas chamam “direita” e “mídia conservadora”. Arnaldo Jabor iria delirar com o discurso de Obama na praça e o poder civilizador da nova globalização — ou qualquer coisa genérica, grandiosa e falsa assim. Editoriais exaltariam a mudança de postura do governo brasileiro, do antiamericanismo rombudo para a harmonia — sem atentar para o absurdo que seria ter um Obama fazendo comício no Brasil. Tenham paciência!
No texto da madrugada, lembrei em que circunstância um chefe de estado como John Kennedy discursou em Berlim Ocidental. Aquela fala faz parte das decisões que salvaram o mundo da barbárie comunista. As coisas têm sentido de proporção! Perdemos a noção de história. Perdemos os parâmetros.
Reitero: se a agenda de Obama estivesse mantida, boa parte dos críticos de agora estariam no gargarejo.






















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