quarta-feira, 11 de maio de 2011

Portugal pede ajuda a Finlândia - humor no youtube

a preto, Portugal (P) e Finlândia (F)
Dica do blog: http://vievivi.blogspot.com/2011/05/esquecamos-o-passado-e-foquemos-no.html

Portugal vive, atualmente, uma crise financeira gravíssima. Ela já se refletiu em índices altos de desemprego que devem aumentar ainda mais.

Portugal já navega na crise desde 2001, no que os economistas chamam de "a década perdida". A crise financeira internacional de 2008 encontrou um país que crescia pouco e se endividava cada vez mais. Em 2010, Portugal cresceu apenas 0,91%, bem menos do que o Brasil e a média mundial. A dívida pública portuguesa, que é o dinheiro que o governo precisa pegar emprestado para conseguir pagar suas contas, chegou a 93% de tudo que o país produz.

“Nós perdemos o ano de 2010 e nós sabíamos o que estava acontecendo, nós sabíamos o que tinha que ser feito. Eu acho que nos atrasamos muito a pedir o apoio”, declarou o economista João Cantiga Esteves.

O FMI e a União Europeia vão emprestar a Portugal 78 bilhões de euros, o equivalente a R$ 180 bilhões. Mas o dinheiro chega acompanhado de péssimas notícias. Para equilibrar as contas públicas, os portugueses vão enfrentar dois anos de recessão.
O aumento médio dos impostos vai ser de 305 euros, o equivalente a cerca de R$ 700 para cada morador do país. A taxa de desemprego deve subir dos atuais 11,1% para mais de 13%. E a economia deve encolher 2% ao ano até 2012.

Previsões que já estão se realizando no bolso dos 150 mil brasileiros que vivem por lá. “Se a gente continuar nessa situação assim, está indo muito brasileiro embora, acredito que muitos mais brasileiros vão continuar indo”, disse um homem.
“Uma coisa era você trabalhar aqui e conseguir um dinheiro para conseguir sustentar alguém no Brasil, ajudar alguém lá no Brasil. Agora você mal consegue se sustentar aqui”, destacou outro jovem.

E mesmo a ajuda dos outros países da Europa que já foi anunciada corre o risco de não chegar. O ministro das finanças britânico disse que se assinar o cheque, vai ser resmungando muito. E o Parlamento da Finlândia ameaça vetar o empréstimo, que só sai se todos os países do euro concordarem.
O presidente do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, Klaus Regling, afirmou numa entrevista
“É necessária unanimidade para tomar uma decisão relativamente ao programa de apoio a Portugal, assim como para aumentar os recursos do FEEF. Podemos conceber um país a abster-se, mas um veto é impossível”

Via YouTube, portugueses e finlandeses aprofundam o conhecimento recíproco. A iniciativa partiu de Portugal na sequência das dúvidas sobre a aprovação, por parte da Finlândia do empréstimo que a Zona Euro vai conceder ao país.

O que os finlandeses não sabem sobre Portugal' foi o vídeo que o presidente da Câmara de Cascais inesperadamente apresentou no encerramento das Conferências do Estoril, onde estiveram presentes nomes como o prémio Nobel egípcio Mohamed ElBaradei, o jornalista norte americano Larry King, o economista, também norte-americano, Francis Fukuyama ou o antigo primeiro-ministro francês Dominique de Villepin.



Narrado em inglês e tratando a crise com muito bom humor, o vídeo descreve as contribuições de Portugal para o bem da humanidade, desde os doces e o bacalhau, passando pelo treinador José Mourinho, até os descobrimentos pelos mares do mundo.

"Nós dividimos o mundo em dois com a Espanha - e ficamos com a melhor parte, o Brasil".
"Nós ensinamos os ingleses a beber chá".
"Inventamos o pastel de nata, o bacalhau salgado".
"e nosso Ronaldo é melhor que o Ronaldo brasileiro".
"Temos mais telemóveis do que habitantes. 60% são Nokia [marca finlandesa]".

O cerne do argumento é que os finlandeses já dependeram da boa vontade portuguesa.
"(Em 1940) recolhemos toneladas de roupas e cereais para ajudar outro país periférico, pobre e faminto.
Esse país era a Finlândia", finaliza o texto.
Em suas várias reproduções, o vídeo já foi visto mais de 750 mil vezes desde a semana passada.

Os finlandeses já responderam ao vídeo que tem estado a levantar o moral português ('O que os finlandeses devem saber sobre Portugal'). No YouTube já circula um vídeo de resposta com um título parecido 'O que os portugueses devem saber sobre a Finlândia'.



Mais curto, o vídeo recorda a resistência finlandesa aos aos exércitos de Estaline e de Hitler na II Guerra Mundial e dá como exemplos do país os campeões de F1 e as mulheres bonitas.

No fim, uma mensagem direta aos portugueses: "Podíamos gozar com a difícil situação financeira em Portugal. Mas não o fazemos, porque o nosso coração e a nossa mente estão convosco. Com amor, Finlândia".

A Coligação Nacional que venceu as legislativas na Finlândia chegou a acordo com o segundo partido mais votado nas eleições, os sociais democratas, quanto ao programa de ajustamento financeiro português, viabilizando a ajuda europeia, anunciou hoje (11/05) o primeiro-ministro eleito, Jyrki Katainen.






Carta aberta ao Povo Finlandês.



Português escreve aos finlandeses: «Já vos ajudámos»

- abaixo, tradução de uma carta aberta ao povo Finlandês escrita por Hélder Fernandes num dos jornais mais lido desse país: um exercício de memória e uma saudável provocação ao anti-egoísta que há em cada um de nós, independentemente da nacionalidade.

Carta aberta ao Povo Finlandês.
21 de Abril de 2011

Encontrei por bem contar aqui os pormenores de uma história que, por muito que pareça pertencer ao passado, tão facilmente nos lembra a todos das travessuras e partidas que a História é capaz de pregar. E por muito incompreensível que possa parecer, as travessuras e partidas que a História às vezes prega, surpreendem em especial aqueles com a memória mais curta.

O local foi Lisboa, e o ano, 1940, mais concretamente o trigésimo nono dia após o final da primeira e heróica guerra combatida pelo perseverante povo Finlandês contra a tentativa estrangeira de apagar a vossa pequena nação do mapa dos países livres e independentes da Europa. A Guerra do Inverno na qual a Finlândia, contrariamente ao que todos julgavam poder ser possível, derrotou o bolchevismo e o imperialismo Russo, teve na altura um impacto muito maior do que o que julga hoje a maior parte dos finlandeses.

Os gritos de sofrimento e os horrores da primeira guerra Russo-Finlandesa e os terríveis sacrifícios impostos ao vosso pequeno país comoveram e tocaram o coração do povo Português no outro longínquo canto deste velho continente chamado Europa. Talvez fosse por causa de um sentimento de irmandade, ou mesmo de identificação com os sacrifícios para que uma outra nação pequena e periférica acabava de ser atirada ... A ânsia de ajudar a Finlândia rapidamente emergiu entre os Portugueses, tão orgulhosos que são hoje quanto orgulhosos eram então dos valores da independência e da nacionalidade. A nação europeia com as fronteiras mais estáveis e com a paz mais duradoura de todas não podia permitir-se, e não permitiu, permanecer no conforto da passividade de nada fazer relativamente ao destino para o qual a Finlândia tinha sido atirada, confrontada que estava com o perigo iminente de se tornar em apenas mais uma província estalinista.

Portugal era na altura um país encruzilhado, submergido em pobreza e constrangido por uma ditadura cruel e fascista. Os Portugueses eram nesses tempos quase todos invariavelmente pobres, analfabetos, oprimidos e infelizes, mas também trabalhadores, honestos, orgulhosos, unidos e cheios de compaixão, mobilizados em solidariedade para oferecerem o que de mais pequenino conseguiram repescar para ajudarem o necessitado e desesperado povo Finlandês. Em cidades e vilas e aldeias de Portugal, agricultores, operários e estudantes, pais e mães, que aos milhões talvez possuíssem não mais do que 3 mudas de roupa, ofereceram os - para si mais que modestos e preciosos bens que, mal grado a penúria, conseguiram prescrever como dispensáveis: cobertores, casacos, sapatos e casacões, e para os mais felizardos, sacos de trigo e quilos de arroz cultivados à mão nas lezírias e terras baixas dos rios portugueses. As ofertas foram recolhidas por escolas e igrejas do norte e do sul, e embarcadas para Helsínquia com a autorização prévia da Alemanha Nazi e Aliados.

Num extraordinário gesto de gratidão, o Sr. George Winekelmann, que era o então representante diplomático da Finlândia em Lisboa e Madrid, publicou um apontamento na primeira página do prestigioso jornal “Diário de Notícias” para agradecer ao povo Português a ajuda e assistência prestadas à Finlândia no mais difícil de todos os inconsoláveis tempos. O bem-haja a Portugal foi publicado no vigésimo primeiro dia de Abril de 1940, há quase exactamente 70 anos neste dia presente que corre, e descreve que "Na impossibilidade de responder directamente a cada um dos inumeráveis testemunhos de simpatia e de solidariedade que tive a felicidade de receber nestes últimos meses, e que constituíram imensa consolação e reconforto moral e material para o meu país, que foi objecto de tão dolorosas provações, dirijo-me à Nação Portuguesa para lhe apresentar os meus profundos e comovidos agradecimentos. Nunca o povo finlandês esquecerá a nobreza de tal atitude. Estou certo de que os laços entre Portugal e Finlândia se tornaram mais estreitos e que sobreviverão ao cataclismo do qual foi o meu país inocente vítima, contribuindo assim para atenuar as consequências de tão injustificada agressão ”.

Em virtude de um outro esforço de ajuda à Finlândia organizado por estudantes Portugueses, o Sr.George Winekelmann mais uma vez voltou à primeira página do mesmo jornal para, numa nota escrita no dia 16 de Julho de 1940, expressar o seu imenso agradecimento: “O Sr. George Wineckelmann, ministro da Finlândia, esteve ontem no Ministério da Educação Nacional (…) a agradecer o interesse que lhe mereceram as crianças do seu país por ocasião do conflito com a Rússia (…) e o seu reconhecimento pela importante dádiva com que os estudantes portugueses socorreram os pequeninos da Finlândia”.

Por irónico que seja, o nacionalismo e as formas que alguns Europeus escolhem para o expressar nos dias presentes estão em completo contraste com o valor do conceito de Nação expresso há 70 anos por um país bem mais velho, e por um povo bem menos rico e bem mais analfabeto, quando confrontado com a luta pela sobrevivência de uma nação-irmã, que é bem mais rica, bem mais instruída e… bem mais jovem. Todos devemos ao passado a honra de não esquecer os feitos e triunfos daqueles que já não vivem.

O conceito de verdadeiro nacionalismo não pode jamais ficar dissociado do dever de honrarmos o passado. Ao cabo de 870 anos de História, por vezes com feitos tremendos e ainda maiores descobertas, um dos sucessos de Portugal como nação tem sido a capacidade de o seu povo unido e homogéneo olhar serenamente de mãos dadas para lá do horizonte da sua terra, sem nunca ter medo dos desafios desconhecidos dos sete mares em frente, sem nunca fechar a ninguém as portas hospitaleiras e da amizade, e sem nunca fugir dos contratempos que possam defrontar-se-lhe na senda do seu destino.

Por mais irónico que seja, algo parece não bater certo quando a condição a que chegou a economia de um Estado de uma pequena nação, por maneira curiosa se torna talvez decisiva nas escolhas eleitorais tomadas por um povo de uma outra ainda mais pequena nação, no outro canto tão longínquo da Europa.

Por mais merecida ou desejável que possa ser, a recusa em ajudar uma nação dorida e testada pelos ventos de um cataclismo financeiro não é provavelmente o passo mais sábio de países unidos por espírito e orgulhosos de honrarem os verdadeiros, intrínsecos valores de solidariedade e mútua amizade, em especial quando atormentados por adversidade e ventanias de crise.

Por mais corrupta que a sua elite se revele, por mais desgovernado que o seu país ande, e por mais caloteiro que o seu Estado seja, os homens e mulheres comuns de Portugal, filhos e filhas e netos e netas daqueles que viviam há 70 anos atrás, sentem-se - e são! - os reféns e as vítimas inocentes de uma guerra financeira que viram ser declarada contra os seus bolsos e carteiras, e que ameaça as suas honestas e modestas poupanças.

Mas não obstante serem confrontados, nos tempos de hoje, com aparente insolvência e, nas mais sozinhas de todas as suas horas, com o desespero e adversidade, estou confiante e seguro de que os portugueses de hoje, mães e pais, agricultores, trabalhadores, padres e estudantes, e até mesmo crianças, de lés a lés naquele país se elevariam da consciência, a fim de mostrar os seus mais sinceros e genuínos sentimentos de nacionalismo e humildade para ajudarem e confortarem o povo finlandês, se alguma outra vez cataclismo ou desastre batesse à porta da Finlândia e iluminasse a ideia obscura da extinção da heróica nação finlandesa, tal como aconteceu há sete décadas atrás. Todos nós podemos aprender com as pequenas e genuínas lições dos tempos que já lá vão.

Hélder Fernandes

jornalista e correspondente da TSF nos países nórdicos

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